Centrais Sindicais pedem reajuste real para o salário mínimo em 2011
Gazeta do Povo, 4 de novembro de 2010
Linha de governo
Centrais pedem reajuste real em 2011
Representantes das principais centrais sindicais se reúnem hoje com o relator-geral do orçamento da União, o senador Gim Argello (PTB-DF), para negociar o reajuste real (acima da inflação para o salário mínimo em 2011.
Inicialmente, o governo propôs um aumento de 5,5% – equivalente apenas à previsão da inflação para 2010 – o que elevaria o piso nacional de R$ 510 para R$ 538,15. A proposta segue a regra de política de reajuste do mínimo, que prevê que o porcentual de aumento será igual à soma da inflação do ano anterior mais a variação do PIB de dois anos antes. Como em 2009 o PIB foi negativo, em princípio, não haveria aumento real para o mínimo de 2011.
Na reunião de hoje, a Força Sindical deverá propor um reajuste de 13%, o equivalente ao crescimento previsto de 2010 mais a inflação do ano. “Vamos trabalhar para conseguir esse reajuste. Caso a gente não consiga, vamos levar para votação no Congresso”, afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical. Para bancar o aumento proposto pela Força, o governo gastaria cerca de R$ 10 bilhões a mais.
Por enquanto, o relator-geral do orçamento sinalizou apenas para a possibilidade de arredondar o valor de R$ 538,15 para R$ 540. De acordo com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o reajuste até R$ 540 estaria dentro do previsto e teria pouco impacto nas finanças.
Segundo o ministro, ainda não há qualquer definição em relação ao porcentual do possível reajuste real a ser concedido para mínimo. Mas, por enquanto, não há previsão de quando a equipe econômica sentará para conversar com os sindicalistas.
Uma das saídas que o Planalto poderá adotar é antecipar para 2011 parte do reajuste real que seria concedido em 2012. Caso se confirmem as previsões econômicas, o país registrará um crescimento do PIB de até 7,5% em 2010. De acordo com o economista Roberto Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB), diluir o aumento de 2012 em duas parcelas seria uma das soluções mais interessantes para o governo.
“Com isso, o governo poderá conceder um reajuste real, ao mesmo tempo em que conquistará um certo fôlego para 2012.” Se o governo seguir por esse caminho e conceder metade do reajuste de 7,5% neste ano, o mínimo iria para aproximadamente R$ 557 em 2011. Isso significaria uma despesa adicional de R$ 5,4 bilhões.
Salário mínimo de R$ 600
A presidente eleita Dilma Rousseff deixou claro que tentará encontrar uma fórmula para conseguir algum ganho real no cálculo do salário mínimo que entrará em vigor em 2011. Ressaltou que esse será um dos primeiros assuntos que tratará quando voltar do descanso pós-campanha, na semana que vem. Ela e Lula defenderam o método de reajuste atual, que considera a inflação do ano anterior e o crescimento do PIB de dois anos antes.
“A verdade é que, no próximo ano, você vai ter 7,5% de crescimento mais 5% de inflação. Se nós estivermos apostando em um crescimento de 4,5% a 5%, significa que você vai ter um aumento de 10% no salário mínimo. Nós vamos chegar em 2023 com a recomposição total [das perdas históricas].”
Luiz Inácio Lula da Silva.
“No salário mínimo, nós temos um critério [de reajuste] que eu considero muito bom e falei isso durante toda campanha. Agora nós temos um problema, que é o fato de o PIB de 2009 se aproximar de zero, até sendo um pouco abaixo de zero. Por que aconteceu isso? Porque houve uma crise internacional que afetou as economias. O Brasil teve uma recuperação muito forte. Então, nós estamos avaliando, e essa é uma das questões que na minha volta vou debater com o governo, se é possível fazer essa compensação. Eu adianto que, em um cenário de PIB crescendo às taxas que nós esperamos, nós vamos ter um salário mínimo no horizonte de 2014 bem acima de 700 e poucos reais, mantido o [atual] critério. Se não tiver nenhuma alteração, já no final de 2011 e início de 2012 ele estaria acima de R$ 600. Nós vamos fazer esse ajuste.”
Dilma Rousseff.
Juros de 2%
Dilma voltou a se comprometer com a redução dos juros da economia, mas disse que a diminuição das taxas está ligada a outras variáveis, como crescimento do PIB e a redução da dívida pública. E estabeleceu a meta de entregar o governo, em 2014, com uma taxa real de juros [já descontada a inflação] de 2% ao ano.
“Todo mundo fala em 2% [de juros reais por ano] porque essa seria mais ou menos uma taxa de juros consistente. Se o PIB cresce mais, como ele é o denominador da equação, a relação entre dívida e PIB melhora; você tem um círculo virtuoso. Quanto mais o PIB crescer e a dívida [pública] cair, mais você chega a um quadro de estabilidade que te permite reduzir, cada vez mais, a taxa de juros.”
Dilma Rousseff.
Guerra cambial: culpa dos EUA e China
Lula e Dilma concordaram, na entrevista coletiva de ontem, que o mundo está passando por uma guerra cambial promovida por China e Estados Unidos – e que ela afeta o Brasil, por meio da valorização do real e da consequente dificuldade de o país exportar seus produtos, devido ao aumento das mercadorias brasileiras para os compradores estrangeiros. Os dois pretendem criticar a postura dos dois países, juntos, na reunião do G20 (grupo das 20 economias mais desenvolvidas do mundo), que será realizada na próxima semana em Seul, na Coreia do Sul. Lula convidou Dilma a participar do encontro.
“Todos os países, que não são a China e os Estados Unidos, percebem que há uma guerra cambial. Numa situação dessas, não tem solução individual. Nunca houve. Todas as vezes que tentaram solução individual, não deu certo. Você pode ter medidas de proteção, mas quando começa uma política de desvalorização competitiva [das moedas nacionais], deu no que deu: a Segunda Guerra Mundial.”
Dilma Rousseff.
“Nós achamos que os Estados Unidos e a China estão fazendo uma guerra cambial. Os Estados Unidos querem resolver o problema de déficit deles e a China porque sabe que não pode continuar com sua moeda subvalorizada como está. Eu vou para o G20 agora para brigar. Se eles já tinham problema para enfrentar o Lula, agora vão enfrentar o Lula e a Dilma.”
Luiz Inácio Lula da Silva.
Reajuste para o Bolsa Família
Dilma Rousseff reiterou a promessa de campanha de ampliar o número de beneficiados do Bolsa Família, mas preferiu não antecipar um porcentual do reajuste. Também prometeu aumentar os valores do benefício. Hoje, 12 milhões de família recebem benefícios que variam entre R$ 22 e R$ 200 mensais.
“Nós temos um objetivo de assegurar que, cada vez mais, a cobertura das famílias chegue a 100%. Vou buscar um nível maior de benefício, proporcional ao que é possível (...). Já antecipo que eu não sei qual é o reajuste. Mas terá reajuste.”
Dilma Rousseff.
Trem-bala curitibano
Dilma Rousseff garantiu que é possível fazer as linhas do trem-bala previstas no PAC 2, que incluem um ramal entre São Paulo e Curitiba. Os investimentos para as ferrovias na nova edição do Programa de Aceleração do Crescimento são estimados em R$ 46 bilhões.
“É absurdo achar que o trem-bala não precisa ser feito. Nos anos 80, essa conversa vigorou para metrô. Diziam o seguinte: o Brasil não pode gastar com metrô porque metrô é muito caro (...). Por isso nós somos um dos países que atrasou o investimento em metrô. O trem-bala, em um país continental mas com grande densidade populacional no Sudeste e na região Sul-Sudeste, é compatível. O investimento do trem-bala é feito pela iniciativa privada.”
Dilma Rousseff.